sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Uma história simples...(019 – Sem nexo...)

E depois as coisas tomaram um rumo ainda mais estranho. A Isa me evitava e eu não queria falar com o Tiago. Liguei para a Taby que me atendeu com voz de quem enxugava lágrimas há dias. Naquele dia cheguei à casa dela, entrei na sala. A mãe dela estava sentada no sofá e sorriu amargamente. Perguntou se eu aceitava alguma coisa para beber e foi para a cozinha para preparar um lanche. A Taby estava sentada, de roupão, com as pernas cruzadas em cima de uma poltrona. Ela se levantou e me abraçou. Eu retribuí o abraço. A minha vontade era lhe dizer que ia ficar tudo bem, que iríamos sobreviver e que tudo ia se compor como por magia. Um abraço que de repente me pareceu durar mais do que o normal. No momento de separar do abraço, nosso olhar se cruzou e ela me beijou de leve nos lábios. Pareceu uma coisa desastrastrada, sem nexo. Mas durante uns meros minúsculos segundos, de repente tudo parecia fazer sentido. E retribui. Retribui como se fosse o último beijo. E continuou a fazer sentido. Tive medo. Inventei uma desculpa e saí apressadamente...

Que desespero...

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David
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segunda-feira, 2 de julho de 2012

Uma história simples...(018 – Louvre, Paris, França...)

Uma tarde no Louvre. A mistura de passado e futuro deveria equalizar à mente e me enraizar no tempo presente. Mas não é isso que acontece. Ao ler o nome de Michelangelo, na escultura denominada “Les Esclaves”, minha mente voa, e me lembro com uma dor aguda no peito, de Ezy. Michelangelo é o primeiro nome de Antonioni, cineasta que segundo Ezy, era um visionário de ritmo lento e uma das poucas coisas que nós dois não partilhávamos. É impossível esquecer das nossas gargalhadas, após horas de tentativas dele em converter-me ao “Fellinismo” reacionário, que, mesmo eu nunca tendo confessado, combinava tão perfeitamente com seu espírito irrequieto e desbravador.

Pra mim, Ezy foi uma paixão avassaladora, embora tenha deixado que as coisas acontecessem num ritmo bem mais lento, devido á sua timidez. Quase inexplicavelmente, existia um grande e recatado tímido por trás do falante e estorvado jovem de olhos brilhantes, com quem eu planejei a mais incrível viagem ao Cairo que alguém poderia fazer.

Á essa lembrança, meu coração dispara e parece que o Louvre sou só eu. Em pé, diante de uma escultura e de olhos fechados, posso sentir seu cheiro. Ah!! E como eu queria que fosse verdade. Mas não posso! Preciso abrir os olhos e deixar que desapareça toda lembrança dessa confusão com Tiago, Taby e Ezy. Por pouco, essa tristeza não me tirou a vida. Ter escrito sobre ela, me permitiu recriar as situações de forma mais agradável e fantasiar sobre um incrível e esclarecedor reencontro, de nós quatro, longe de Nova York. Mas aqui dentro de mim, a confusão continua.

Preciso de ar. Caminho pelas ruas até parar numa praça e me sentar. Fecho os olhos tentando focar um folheto, na outra ponta do banco e leio os seguintes dizeres: “Em breve - Richard Lebeau e a história das religiões”, seguido de um breve texto que narra sua recente passagem pelo Cairo para uma convenção.

Talvez o Cairo não esteja tão longe, afinal.

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Marianne
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sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Uma história simples...(017 – Interrupção...)

Às duas da tarde bateram na porta. Ainda meio zonzo de sono fui abrir. Depois de ir embora do hotel dela passeei pela cidade durante algum tempo, tentando juntar as peças do quebra-cabeças. Muita informação a ser processada em tão pouco tempo.

Na porta, Ali me sorriu e disse que tinham vindo entregar a passagem para Nova Iorque. Para Nova Iorque? Porque preciso de passagens para Nova Iorque? Casamento da sua irmã, lembra? Ah, é verdade. Deixa aí em cima da mesa, eu vejo depois. Precisam de você também na escavação 2. As paredes não parecem em bom estado em o pessoal está com medo de avançar, medo de desmoronamentos. Ok, dá-me 20 mn e eu desço e vamos.

Tomei um banho rápido, vesti-me, liguei para a recepção para pedir um sanduíche e saímos em direção às pirâmides. Durante o caminho eu pensei outra vez na noite anterior e pedi para o Ali passar frente ao hotel da Taby. Não sei por que, fiquei com vontade de vê-la antes de ir para fora da cidade. Chegamos ao hotel, passei pelo balcão e perguntei por ela. O senhor que atendia respondeu que ela tinha saído, mas que parecia ser por pouco tempo. Eu não podia esperar. O trabalho que eu tinha de fazer na escavação precisava do sol e este ia se por em pouquíssimo tempo. Pedi ao senhor que lhe transmitisse uma mensagem quando ela voltasse. Como eu estava com pressa, ditei o texto no meu inglês nova-iorquino, enquanto ele tentava escrever tudo antes de eu sair voando do hall de entrada. “Há coisas que dificilmente podem ser consideradas coincidências. E de qualquer forma eu nem acredito no destino. Espero te rever em breve. Beijo.”.

Saí do hotel sem esperar pela resposta do empregado. Algures em mim estava a vontade de não me cruzar com ela naquele momento. Não saberia o que dizer. Mas sabia que não podia deixar de conversar com ela. Depois de tudo que tinha acontecido eu ainda pensava que algumas coisas mereciam um pouco de conversa. Até da minha parte. A forma como reagi ao caso entre a Isa e o Tiago eu fechei-me, senti raiva, quis desaparecer. Foi um conflito, pois eu me sentia profundamente incoerente com o que sempre tinha apregoado. Não queria magoar ninguém, não queria me vingar de ninguém, não queria ver ninguém. Com o tempo digeri parte dos acontecimentos. A Isa se escondeu de mim durante uns tempos, com medo. Sempre fui o impulsivo dos dois. Eu queria que agente conversasse. Com ela eu ia poder conversar. Com meu irmão, não. Se problema houvesse seria entre a Isa e eu. Esse era o mais importante. Mas aquela conversa nunca aconteceu. Levei tempo até ultrapassar minimamente a dor, embora ela nunca passe completamente. A sensação de vazio se mantém lá, presente, emboscada e protegida por uma camada de cinismo.

Íamos a caminho de Gizeh, eu submerso nos meus pensamentos e o Ali tentando navegar o carro pela multidão do centro da cidade. Em pouco tempo descíamos o Nilo pela Komish Al Nile para poder pegar a Al Ahram em direção à esfinge. Naquele momento da tarde o transito estava estranhamente fluido e Ali acelerou um pouco na esperança de ganhar tempo de luz natural no sítio da escavação.

Tínhamos acabado de passar para o outro lado do rio, quando o carro da frente travou de repente. Só me lembro de ter gritado atenção para o Ali, ao mesmo tempo que instintivamente fingia travar. O nosso carro derrapou e bateu lateralmente no carro da frente. Foi na minha lateral. É a ultima coisa que me lembro... E apaguei.


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David
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segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Uma história simples...(016 – Confusa...)

Desde aquele beijo, sempre que ouço essa música me lembro deles. E quanto mais o tempo passa, menos sei em quem penso exatamente. É como se os dois tivessem se transformado em um ser completo. O que eu odiava em no Ezy, o Tiago tinha de perfeito. O que faltava no Tiago, o Ezy mostrou que seria capaz de suprir. Por que o Ezy me beijou daquela maneira tão inesperada, como algo momentâneo e até indesejado? Não entendo. Nunca eu tinha percebido nenhuma insinuação, nenhuma atração, nada por parte do Ezy. Um belo dia, nos encontramos e ele me abraçou e me beijou como se eu fosse a mulher de sua vida, me apertando contra seu peito, como quem quisesse garantir a posse...

Logo ele, em nada possessivo. Ele que vivia uma relação tão bonita e leve com a Isa. E aquele beijo me provocou sentimentos inesperados. Teria sido tão mais simples se Tiago não viesse me sufocando com seu ciúme, sua posse, seu domínio. Eu procurei naquele beijo a liberdade que Tiago me tirava. Procurei no Ezy a única coisa boa que ele podia me dar, porque todo o resto já tinha sido dado por Tiago. Eu gostei. E me odiei por isso. E nunca mais consegui encarar o Tiago.

E, desde então, sempre que quero pensar na vida, me afastar do mundo, coloco essa música no meu fone de ouvido e fico alheia à humanidade. É estranho caminhar pelas ruas do Cairo, ver a movimentação das pessoas, a agitação dos carros, e me sentir em câmera lenta, em uma outra dimensão. Entre eles, mas fora deles, porque sou carregada por essa música repleta de harmonia, que tocava no momento em que duas histórias de amor se perderam por um beijo.

Eu sei que devia deixar os dois e as duas histórias no passado. Mas não consigo. E, por mais contraditório que pareça, é pensando nessas histórias, ouvindo a música de fundo do fim delas, que encontro minha paz.

Preciso mudar de rumo. Tenho que sair do Cairo. Já fiz mais do que estava previsto. Cumpri minha agenda de vontades e ainda tive o encontro com o professor Richard Lebeau.

É isso. Vou embora. Mas não vou voltar para casa. Tenho ainda algumas reservas do apartamento e do carro que vendi. Vou para outro lugar. Um lugar que nem sei ainda. 

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Sandra
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segunda-feira, 25 de julho de 2011

Uma história simples...(015 – Entorpecido...)

A chegada foi caótica, mas eu gostei do encontro com a cidade. O lado aparentemente desordenado da cidade permitiu-me um anonimato muito bem-vindo. Contratei um guia logo no aeroporto e ele me levou para um hotel mais perto do centro. A única incógnita era como ia fazer para encontrar o meu irmão nesta cidade tão diferente de tudo o que conhecia. Lembrava-me ter ouvido falar por alto de um bazar no centro da cidade, então deixei as coisas num hotel perto do aeroporto e dirigi-me lá, com a esperança de conseguir algum indicio. Durante a viagem eu só conseguia pensar no que dizer quando encontrasse o meu irmão. Interessantemente não me passava pela cabeça a possibilidade de não o encontrar, mesmo numa das cidades mais caóticas que conheci. A minha esperança era que aquela coisa que contam sobre os instintos e ligações entre gêmeos fosse mesmo verdade. Sem isso as chances de encontrá-lo eram reduzidíssimas.Uma vez instalado no hotel, saí para o centro da cidade, com a esperança de ter alguma revelação. Eu pensava na palavra epifania, que tinha aprendido pouco tempo antes. Epifania: uma revelação. Era o que eu precisava naquele momento.

Durante esse tempo morto eu tentava juntar as peças dos acontecimentos, e sobretudo, tentar construir algum raciocínio para a conversa com o Ezy. Eu não entendo o que aconteceu. Beijei a namorada dele e ele viu. Depois disso não disse mais nada, simplesmente desapareceu. A Taby também. Dias depois ele voltou a aparecer e eu só conseguia dizer que não tinha acontecido nada. Sim, simplesmente o pânico. Até hoje eu não faço ideia se ele conversou com a Isa depois disso. Tenho a certeza que ele conversou com a Taby porque ela nunca mais quis me ver. Daquele momento em diante nunca mais atendeu os meus telefonemas, não me recebia em casa, deixou de ir aos mesmos lugares etc. Assim. Como o cortar do cordão umbilical.

Com o recuo do tempo eu me pergunto se não é melhor assim. Algumas vezes eu senti um tipo de “deslocamento”, sensação de estar fora do lugar. Para o resto do mundo o casal formado pela Taby e eu era o típico casal de filmes. Antes do incidente eu me sentia meio preso nesse papel, nesse desígnio das coisas. Parecia que estava tudo pronto para ir num rumo sobre o qual eu tinha pouco domínio. O meu irmão ficava furioso quando eu dizia-lhe isso. Ele repetia a quem quisesse ouvir que a escolha existia sempre e que as pessoas que diziam não ter escolha eram simplesmente pessoas desconfortáveis com as escolhas que faziam. Ele dizia isso com tanta propriedade...e a Taby concordava com ele. Em algumas coisas eles tinham opiniões similares, essa era uma delas. Porque nas demais ele passavam a vida a discutir posições antagônicas. Eu tinha mais dúvidas, muitas dúvidas. Ezy exalava certezas. Até no abandono dos estudos ele tinha a certeza de ser a coisa certa. Eu sentia inveja. Enquanto ele exibia uma postura eu-faço-o-que-quero-e-estou-nem-aí-para-o-resto, eu ia fazendo o que esperavam de mim, timidamente.

E veio o “incidente”. Ou acidente, chamem como quiserem. Eu tento colocar a culpa no álcool da festa...mas não me convenço. Eu tinha bebido, sim. Como a Isa. Mas eu estava lúcido o suficiente para saber o que estava a fazer, assim como imaginar as consequências...

É como se uma vez eu quisesse romper com esse longo rio tranquilo que parecia ser a minha vida...

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David
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quinta-feira, 30 de junho de 2011

Uma história simples...(014 – Interlúdio 1)

E assim foi acontecendo esta história. Essa coisa deles serem gêmeos, de terem partilhado os mesmo amigos, os mesmos espaços, a mesma educação, etc. não é nada. Eu segui a história inteira e sei de cada detalhe, da realidade, do que realmente aconteceu, sem o filtro da percepção de cada um deles. Um enorme mal-entendido foi o que aconteceu. Desde os primeiros beijos havia uma coisa que não batia certo nesse quatuor. Eu achava que estava tudo perfeito demais, como a calma antes da tempestade. E então chegamos a isto: três dos quatro se encontravam ao mesmo tempo no Cairo, mas com relativo desconhecimento do paradeiro uns dos outros. Ezy sabia que a Tabata estava lá e o Tiago imaginava que o Ezy estaria por lá também. Com o recuo acabo por reconhecer que afinal a história não tinha sido assim tão simples. Ou sim? Sim, acho que foi simples. Nós, humanos, somos entes que gostam de complicar as coisas simples. É como uma premissa de qualquer relacionamento, seja ele amoroso, amizade, profissional, o que seja. Aqui entre nós, aquela coisa de que homens e mulheres são animais diferentes é uma ilusão. Somos todos iguais. Queremos todos amar e ser amados, desejado, queridos. Temos apenas formas diferentes de expressar essa mesma realidade. Somos animais básicos com tendências esquizofrênicas. Simples assim. Se conseguíssemos comunicar entre nós sem os filtros que a sociedade – da qual somos a única matéria bruta – nos impõe, depois de um período de adaptação tenho a certeza que as coisa ficariam ótimas. No caso especifico desta historia “simples” creio que cada um já imaginou um cenário do que pode ter acontecido para que dois casais apaixonados e quatro amigos se separassem assim tão violentamente.

Por mais que a Tabata quisesse se desligar do passado – na verdade, de uma parte do passado – ela sabia pertinentemente que não ia ser tão fácil. Aliás, todos eles estavam mais ou menos presos a esse mesmo passado. Da Isa eles pouco ou nada sabiam. Eu posso vos contar. De fato ela tinha fugido para a Califórnia e, depois de uma tentativa de suicídio e uma depressão – para uns foi nessa ordem, mas o bom senso dita que tenha sido o contrário – tinha voltado lentamente à vida graças à literatura e ao budismo. Ela manteve um diário meticuloso de todo esse processo e o livro que acabou por escrever fez algum sucesso. Não o suficiente para os outros ouvirem falar, mas o suficiente para pagar as contas durante uns escassos anos. O suficiente para ela decidir viajar durante um tempo. Não, ela não estava no Cairo. Na verdade ela queria ficar o mais longe possível de Nova Iorque e Cairo. Filosofia e literatura atraíram-na para Paris. Os outros estavam alheios a isso tudo. Mas todos continuavam de alguma forma conectados.

O que tinha acontecido?

As minhas lembranças já não é o que era, mas recordo-me que o Ezy repetia sempre a torto e a direito que não era ciumento, que não entendia o sentimento, que ter ciúmes era como um ser humano se sentir dono do outro e isso era resquício de escravidão etc, etc. E a Tabata concordava com ele. Aliás, se a memória não me falha, era a única coisa em que eles concordavam. O resto do tempo Ezy gastava a tentar tirar a menina do sério com as suas declarações grandiosas e ocas. Mas nesta coisa do ciúme eles concordavam. Os dois outros já eram mais reservados sobre o assunto, acreditando que o ciúme existe em todo o mundo e que alguns lidam melhor ou pior com o dito sentimento.

Cheguem ás vossas próprias conclusões...

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David
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domingo, 5 de junho de 2011

Uma história simples...(013 – Memórias...)

Passei bem os últimos dias, cumprindo o que estava previsto em minhas anotações de "para visitar no Egito". Consegui até mesmo agendar um encontro com o historiador Richard Lebeau, que veio ao Cairo para uma conferência sobre história das religiões. Quando vi seu nome indicado no folheto da conferência, não resisti e fiz minha inscrição. Foi muita coincidência estar aqui nesse momento. Eu tinha lido seus livros sobre o Oriente Médio na faculdade e tinha muitas dúvidas, muitos questionamentos a fazer. Após sua palestra, aproximei e me apresentei: "Tábata, formada em história e sua fã". Que ridículo, mas foi assim mesmo...

Apesar da péssima apresentação, foi empatia à primeira vista. Conversamos por mais de meia hora ali, em pé, até que os organizadores do evento pediram licença para fecharem as salas... saímos para continuar a conversa em um café e o encontro terminou com um jantar no tímido Alfi Bey, onde pude experimentar cozinha egípcia tradicional, acompanhada por um especialista no assunto. Foram horas falando sobre história, evolução da humanidade, rumos das religiões... Foram momentos inesquecíveis.

Após o jantar, Richard me deixou no hotel, trocamos endereços de e-mails e promessas de continuarmos nossas conversas sobre história, historiadores, civilizações e religiões via internet. Ao entrar no elevador do hotel, ouvi a risada de Isa, grande amiga que fiz na faculdade. Voltei para procurá-la, em um gesto instintivo. Então, me dei conta da bobagem. Só poderia ser uma risada parecida... há tanto tempo eu não a ouvia. Desde que ela mudara para a Califórnia, ao fim do curso de Filosofia. Verdade que tínhamos pensado muito em vir para o Cairo, juntamente com Tiago e seu irmão. Mas não aconteceu. O grupo se dissolveu antes e ela nem imagina que eu estou aqui agora.

De volta ao quarto só consigo pensar nessas imagens do passado que me perseguem aqui. Outro dia o Tiago, no café. Agora, a Isa. Pessoas tão presentes por tanto tempo, que se perderam de forma tão rápida, tão contundente. Uma amiga, um namorado, uma aventura... Tudo é passado e lá deve ficar.

Racionalmente eu sei que é assim. Mas na prática, não consigo fazer. É como se quisesse estar com eles novamente, a todo instante, fazendo a viagem que sonhamos e tanto falamos. Queria que nada tivesse acontecido como foi, que nada tivesse estragado nossos planos, nada tivesse mudado o rumo tão simples de nossa história.

E com isso voltam minhas alterações de humor. Por que, mesmo sendo tão jovem, e com a consciência de que ainda vou ter muitos amigos, namorados e planos perdidos pelo caminho, só consigo pensar agora que o melhor seria acabar com tudo, com toda essa história? Ou, ao menos, nunca mais voltar a lugares onde já estive e nem seguir pelos lugares que planejei com eles?

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Sandra
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