segunda-feira, 21 de março de 2011

Uma história simples...(009 – Assimilações múltiplas...)

Conheci a Isa numa tarde livre. Ou melhor, numa tarde em que eu tinha decidido faltar. Eu estava sentado no pátio da universidade, o Tiago tinha acabado de sair para uma das aulas dele, salvo erro era matemática, curso de arquitetura. Ao ir embora eu tinha ficado na conversa com a Taby, a namorada dele na altura. Falávamos por falar porque ela e eu não nos curtíamos muito. Ou tínhamos a sensação que não nos curtíamos muito. Com o recuo do tempo confesso que nem sei. A verdade é que não conseguíamos sair das conversas triviais e superficiais. Isso algures em 94. Será? É. Deve ser por aí mesmo porque eu estava no meu primeiro – e único – ano de economia.

A Taby estava num ano mais avançado que nós, ela era um pouco mais velha que nós. Salvo erro ela estudava história. E nessa tarde, depois da saída do Tiago, apareceu uma amiga dela, a Isa, mais ou menos da mesma idade. Ela se apresentou e depois se aliou à Taby para divertidamente destruir as minhas teorias filosóficas sobre o fantástico destino da humanidade. Depois de uma primeira reação de rejeição, acabei por entender e entrei no jogo. Passamos a tarde juntos, até o Tiago se sair das aulas. Falamos de tudo um pouco, reconstruímos o mundo algumas vezes, para destruir logo depois com teorias baseadas na física quântica. A Isa estudava filosofia na altura. As duas adoravam os livros de Garcia Marquez, a musica de Nirvana e Bob Marley, e os filmes de Antonioni, Kubrick e Godard. Normalmente eu me opunha à escolha de Antonioni. Gostos diferentes.

A paixão não foi repentina e avassaladora. Foi mais uma amizade que se transformou pouco a pouco. Ainda bem, porque tenho pouco jeito com sensações fortes sob as quais não tenho controle. A tendência é entrar em pânico. Começamos o namoro uns meses depois de nos conhecermos, depois de muitas conversas paralelas. Depois de eu abandonar a universidade, eu me encontrava com eles à tarde, no village, para café e conversas. Uma vida boemia que servia de fertilizante para uma aproximação com ela. Durante esse tempo, Taby e Tiago também viviam inseparáveis. Aliás, tenho a sensação que eles dois foram o cimento da nossa relação. O Tiago estudava com uma concentração invejável, assim como as meninas, aliás. Com eles, mesmo fora da estrutura convencional da educação, fui aprendendo várias coisas. Interessei-me pelas construções fantásticas de Lloyd Wright assim como pela personalidade dele, reconheci-me em algumas partes do pensamento de Kant e a visão dele sobre a menoridade humana, fiz mil perguntas sobre esse pedaço fascinante de história chamado de segunda guerra mundial – que dificuldade eu tinha, ou ainda tenho, em pensar que era a “segunda”... perguntava-me se haveria uma terceira, se existia algum numero onde a ficha cairia e não haveria mais guerras mundiais – interessei-me pela egiptologia... aliás, isso foi um fenômeno de grupo. Passamos horas a discutir as vidas doa faraós e as dinastias que construíram as pirâmides e a esfinge. Foi um período rico.

E passamos juntos os três anos seguintes.

Como é que este grupo se desintegrou? Faz parte da tal história simples...


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David
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