quinta-feira, 14 de abril de 2011

Uma história simples...(010 – Linguagem corporal...)

A Isa e eu começamos o namoro oficialmente, mais ou menos um ano depois desse primeiro encontro. Foi uma história engraçada. Na altura, eu tocava bateria numa banda de rock em Brooklyn. Tocávamos um pouco de tudo, como que em busca ainda de uma identidade, de uma linguagem. A Isa tinha uma boa rede de relacionamento que poderia nos ajudar a encontrar alguns lugares para tocar ao vivo. Daí a ela se oferecer para nos agenciar, foi um passo. O que aconteceu na realidade foi ela se apaixonar pelo guitarrista e cantor. A minha sorte é que o jovem não tinha interesse nela. Sobrou para mim. E não me queixei. Começou no dia do aniversário dela. A verdade é que eu a achava bonita, mas nunca tinha pensado na eventualidade da possibilidade de namorar com ela. O que aconteceu é que o encontro de aniversário num pub foi muito divertido. A banda inteira estava lá, o Tiago, a Taby, um monte de gente que eu não conhecia. Bebemos e falamos horas e no meio da noite eu me surpreendi a cruzar olhares com ela. E eu pensava para comigo que tinha que apreender a ler a linguagem corporal das pessoas. Nunca soube fazer isso. Se que em algum momento os nossos olhares se cruzaram e sorrimos um para o outro. E eu pensava: “acorda!”

No meio a conversas e gargalhadas, a tarde se pintou de noite. Foram chegando mais pessoas e depressa as mesas ficaram sem espaço para todos. Era um daqueles bares com uma decoração mais moderninha, com um único banco comprido que dava a volta em todas as paredes. Frente a esse banco contínuo, estavam mesas de quatro lugares – 2 de cada lado – e mais cadeiras e puffs (é assim?) do outro lado. Na TV devia passar ultimo jogo do campeonato de basebol ou assim, ninguém prestava atenção. A Taby e eu estávamos sentados no banco contra a parede, entre amigos e conhecidos, e a Isa estava numa cadeira de frente para nós, um pouco na diagonal. Chegaram mais amigos dela e ela pediu para nos apertarmos no banco para que ela e o Tiago pudessem se sentar e fazer espaço. Com algum esforço o Tiago consegui se sentar mas não dava para mais. E eu brinquei “aqui já não dá, só se for no colo de alguém!”. Ela sorriu, disse “ok!” e veio se sentar no meu colo!

Passei as duas mais em pânico da minha vida. Eu já disse em algum lugar que sou tímido? Sim, sou capaz de tocar, cantar, falar em público sem problema. A minha timidez é outra. Ela se sentou, minha voz mudou, meu corpo enrijeceu, suei frio e a minha mão tremeu. Escondi isso tudo por baixo de toneladas de piadas que faziam rir todo o mundo, a minha mão mal tocava nela. Anos depois ela me contou que tinha feito de propósito e só sentia a minha mão direita, muito de leve nas costas dela. E era o que eu tinha conseguido fazer. Para não ficar numa posição que pareceria que eu a estava a abraçar, eu tinha colocado a mão esquerda na mesa e a outra nas costas dela, quase como suporte. Pelo menos era a impressão que transmitia. Na realidade eu mal a tocava. Nesse momento eu ainda me perguntava se estava a ler corretamente. Sim, sim. Perguntei-me isso varias vezes durante a noite.

Do canto do olho eu sabia que a minha banda se divertia muito com a situação. Assim como a Taby e o Tiago, aliás. Combinamos que iríamos, no dia seguinte, passear alguns bares que ela conhecia para falar com o dono e tentar arranjar uns gigs para a banda. Enfim, depois de umas horas naquela posição super desconfortável, uns convidados foram saindo e a Isa pôde se sentar no banco, desta vez ao meu lado. A noite foi se acabando e decidimos ir embora. No momento da despedida aconteceu uma coisa estranha, ela abraçou todos e quando chegou em mim, pegou a minha mão e olhou dentro dos meus olhos. O meu cérebro a mil à hora “o que é que ela me está a dizer agora? O QUE É QUE ELA ME ESTÀ A DIZER AGORA!?!?”. Nesse momento o Tiago me dá um empurrão nas costas e acabamos abraçados. Abraçados. Só isso. Um abraço apertado, com todo o corpo, que pareceu durar horas. Depois soube que tinha sido uns intermináveis três segundos. Sorrimos um para o outro e nos despedimos com um tímido “até amanhã”...
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David
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