domingo, 29 de agosto de 2010

Uma história simples...(001 - Primeiros passos)

Bem, de alguma maneira hei de começar. É uma história simples num mundo de homens e mulheres, portanto num mundo complicado. Tudo começou há dois anos no Cairo. Nesse momento, eu estava a gastar a fortuna da família armado em pesquisador. Sempre gostei da história pela história. Não pelo que ela me pode ensinar sobre a vida, mas só por gostar de me imaginar na pele dessas pessoas antigas. E divertido para a minha mente, materializar-me na pele de uma pessoa que já morreu e ver-me a fazer os mesmos gestos que ela, tomar as mesmas decisões, andar os mesmos caminhos, cometer os mesmos erros e assumir as mesmas consequências. Estava no Cairo, como disse, a tentar perceber se a escolha dos locais de construção das pirâmides tinha sido feita ao acaso ou se seguiam uma lógica que até agora tinha escapado a todos. Isto, em Novembro de 1997. A minha família tinha feito fortuna a fabricar embalagens de cartão biodegradáveis e multiusos. Tentei estudar economia (desejo do meu tio, também economista) mas rapidamente percebi que não gostava de trabalhar com dinheiro embora adorasse gastá-lo. A seguir a isso experimentei várias profissões sem encontrar nada que me agarrasse mais de que 2 meses. Cansei-me de perder tempo inutilmente e vim parar ao Cairo, sozinho, sem ligações, com o desejo de satisfazer a minha mente no campo específico da Egiptologia. Os meus pais (Samuel e Ana, ambos cinquentões e ainda com os anos 60 mal digeridos) viviam em Nova Iorque com os meus irmãos (Luana 28 anos, Yuri 25 anos e Tiago 23 anos). A propósito, chamo-me Ezy. E.Z.Y. Não me perguntem porquê. Gosto de pensar que foi porque o meu nascimento fácil. Ou que a minha vida foi destinada a ser fácil. Espero que sim. Tenho 23 anos e sou 35 segundos mais novo que o Tiago.
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David
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3 comentários:

  1. Tento continuar. Me pareceu óbvio, mas quis que fosse assim. No entanto, aceito mudanças.

    Depois de cinco anos, finalmente saía de férias. Não eram as férias dos meus sonhos, porque me via sozinha e sempre pensei estar bem acompanhada quando chegasse ao Cairo. Mas a vida assim quis e eu não ia mais adiar esse momento, essa descoberta, a visitação a tudo que conheci nos livros que devorei na adolescência, não por causa das minhas decepções amorosas.

    Naquele dia eu tinha feito uma visita ao "soukh", um antigo mercado árabe, e estava voltando ao hotel, um simpático hotel de uma dessas redes modernas que reabilitam prédios antigos e conseguem cobrar preços acessíveis em locais muitas vezes charmosos. Já perto do hotel, no centro da cidade, vi Tiago, do outro lado da rua, encoberto pela fumaça dos narguilés do café. Tentei fixar o olhar para ter certeza que não era meu coração que queria ver, mas a agitação dos carros, a bagunça do trânsito desordenado não me permitiam ter certeza.

    Não quis me aproximar. Quis. Mas não me aproximei. Não sei porque. Muitas lembranças vieram à mente naquele momento. Lembranças, inclusive de nossos planos para a viagem ao Cairo... conversas sempre interrompidas pelo irritante irmão de Tiago, um esbanjador sem seriedade, que não quer nada sério da vida, mas dizia se interessar pelo Egito, por história.

    Subi para o quarto do hotel, para ver os mapas do passeio que pretendia fazer no dia seguinte. Fixava os olhos nos papéis, mas a imagem que vinha à mente era de Tiago, sentado sozinho na mesa do café. Estaria esperando alguém? Estaria a trabalho ou de férias? Saberia ele que eu estava aqui? Como teria reagido se eu me aproximasse?

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  2. Fantástico! Li 3 vezes antes de perceber que era outro personagem que estava a falar... mesmo com os verbos femenizados :D

    Não mudei nada e chamei o capítulo de "Outro olhar". O que achas?

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  3. Gosto, gosto muito do título.

    Percebestes também o lance dos irmãos gêmeos ou vou precisar explicar?

    :D

    Beijos.

    Sandra.

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