quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Uma história simples...(006 - Fuga...)

Abri os olhos e já era o dia seguinte. Na noite anterior fiquei até tarde estudando mapas e folhetos de passeios para fazer hoje. Agora, tudo que quero é não estar aqui. Cairo é uma cidade caótica, mas ao mesmo tempo romântica. E essas duas coisas são tudo que não quero encontrar hoje. Queria ter acordado em outro lugar, sem romantismo e com muita ordem. Até ontem os milhares de pedestres disputando espaço nas ruas com veículos que a todo instante tem a buzina acionada — mesmo sem motivo aparente — era uma diversão para mim. Hoje não quero mais.

Fazia tempo que eu não tinha essas oscilações de humor. Parecia estar estável, controlada. O que teria acionado novamente o mecanismo de minhas vicissitudes internas? Claro que eu sei. Foi a visão do Tiago ontem, tão perto de mim, depois de tanto tempo. Estou tomada pelo medo de sair às ruas e revê-lo. Nunca mais nos vimos depois da separação. Nossa relação fora muito intensa. Apesar de ter durado apenas três anos, na passagem da adolescência para a vida adulta. Quando acabou, por muito tempo senti uma dor funda no peito. Dor física. Nem parecia coisa de sentimento, de emoção... Dor da perda não apenas de um companheiro, mas de toda uma história, de parte da minha história de vida. Era tão linda nossa história... Quando acabou, passou a ser mais uma. Poderia, a partir daí, ter sido qualquer história. Foi muito difícil seguir em frente, voltar à vida normal, encontrar ânimo mais uma vez. E quando, finalmente, consigo, deparo-me com ele ao acaso, em uma cidade que não é a nossa, um rosto entre os quase oito milhões de habitantes do Cairo. O único rosto que eu não queria ver.

E se não fosse ele? Havia muito movimento na rua, muita fumaça no café. Pode não ter sido ele. Não faz sentido vir até o Cairo e ficar fechada no hotel, com medo de encontrar um fantasma que nem sei ao certo se vi. Mas ainda que meus olhos não tenham visto, meu coração viu. Isso trouxe novamente a dor ao meu peito, estragou meu dia.

Imersa nesses pensamentos, Tábata se ajeita na cama e dorme novamente.
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Sandra
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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Uma história simples...(005 - Desencontros...)

Senti a presença dele. No dia seguinte recebi um telefonema de casa. Era a Luana. Antes de viajar eu tinha conversado com ela e tinha pedido que me contatassem só em caso de urgência. O som e a tonalidade da voz dela me levaram de volta para um mundo de ansiedade e medos sem explicação do qual eu tentava fugir continuamente. Ela me dizia que estavam sem noticias do Tiago há dois dias. Eu me aclamei. Se alguma coisa tivesse acontecido eu já teria sentido. E eu lhe disse que o Tiago estava no Cairo também.
  • ...não, não o vi ainda, mas sei que está aqui...sim, senti a presença dele ontem na rua... eu sei que ele está bem... talvez um pouco triste... isso, acalma os pais... não faço ideia, talvez o meu guia possa ajudar... ou alguém vai me confundir com ele...sim, assim que souber eu ligo...o pessoal está bem?...diz ao Yuri que ele ia gostar de Cairo...uma zona, lembrou o quarto dele...quem?...não acredito!...sério?...onde vão se casar?...ahhh, parabéns Lua...sim, claro que estaremos lá! Que pergunta...e estás feliz?...que bom, estou feliz por ti...muito mesmo...ok...ok!...tá...espera, espera!... não, nada (faziam sempre isso com ela)... hahahahha...beijo grande!
Lembro-me de ter ficado com o coração mais leve depois de falar com a Luana, mas logo depois veio o medo. E se eu estivesse errado? E se algo tivesse acontecido mesmo com o meu irmão? A verdade é que eu não fazia ideia de onde ele poderia estar, e estando no Cairo, as razões da vinda. Uns tempos antes da minha viagem, ele confessou que a sugestão de vir para o Cairo não era dele, mas sim da ex-namorada. Na altura das nossas conversa isso não me tinha interpelado, mas com a perspectiva temporal, a coisa tomava outra cor. Eu fui para o Cairo e a ideia original não era do Tiago...

Lembro-me de ter tremido com a ideia deles terem combinado um encontro lá. E eu metido ali no meio...
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David
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